À medida que a Europa acelera a transição verde, empresas de vários setores enfrentam um mercado de trabalho em rápida transformação. O CEDEFOP entrevistou empresas de retalho, produção alimentar, gestão de resíduos e engenharia automóvel, que revelaram como estão a redefinir os perfis profissionais para responder às exigências de uma economia mais limpa e de uma sociedade mais sustentável.
A transição verde vai muito além da produção mais limpa ou da redução de emissões. Está a provocar mudanças profundas nos empregos e nas próprias estruturas do mercado de trabalho. Novas profissões estão a surgir, enquanto outras se transformam, com perfis mais verdes e digitais.
As profissões técnicas estão entre as mais afetadas. No setor automóvel, a transição dos motores a diesel para motores elétricos e híbridos gera procura por especialistas em alta voltagem, engenheiros de hidrogénio e designers de sistemas de baterias. Funções mecânicas tradicionais passam a exigir competências em software e análise de dados.
No setor agroalimentar, a agricultura sustentável e a produção circular geram a procura por engenheiros ambientais, agrónomos digitais e gestores de energia. Estas profissões exigem competências específicas do setor, mas também capacidades em análise de dados, conformidade regulatória e uso de novas tecnologias.
A ”mudança verde” está também a gerar funções híbridas que cruzam sustentabilidade com áreas tradicionais da gestão. Empresas de retalho exigem agora que profissionais de economia e finanças dominem contabilidade de carbono e indicadores verdes; que designers de produto incorporem circularidade e reparabilidade; e que juristas acompanhem legislação climática. Cargos de topo como Chief Sustainability Officer e Chief Value Officer (Diretor/a de Sustentabilidade e Diretor/a de Valor) tornam-se mais comuns, refletindo uma transformação estrutural na administração empresarial.
Para além das competências técnicas, o CEDEFOP destaca a importância de capacidades transversais como resolução de problemas, adaptabilidade, criatividade e pensamento crítico. A estas junta-se a exigência crescente de fluência digital. Verde e digital estão cada vez mais interligados, desde a rastreabilidade da cadeia de abastecimento com recurso a QR codes, à monitorização da água com inteligência artificial na agricultura, ou ao diagnóstico digital de baterias no setor automóvel.
Os testemunhos recolhidos pelo CEDEFOP são um alerta para os sistemas de Ensino e Formação Profissional (EFP). É necessário adaptar programas e currículos de forma rápida e decisiva. Para garantir uma transição justa e inclusiva, as políticas de EFP e de aprendizagem ao longo da vida devem:
- antecipar necessidades de competências em rápida mudança;
- apoiar a atualização e reconversão de trabalhadores em todos os níveis;
- oferecer percursos de aprendizagem flexíveis e modulares.
Segundo o CEDEFOP, a revolução verde no desenvolvimento de competências é urgente e essencial para cumprir o Pacto Ecológico Europeu, o Acordo Industrial Limpo, o Pacto para as Competências e a visão de uma União de Competências.
Em Portugal, o PESSOAS 2030, cofinanciado pelo Fundo Social Europeu Mais (FSE+) e pelo Estado português, contribui ativamente para esta transição justa e inclusiva. O Programa apoia diversas tipologias de operação com ações que estão ligadas às competências verdes. Dessa forma pretende contribuir para que jovens, adultos ativos e trabalhadores em reconversão tenham acesso a oportunidades de formação e emprego nas áreas que mais vão crescer na próxima década. O objetivo é assegurar uma transição verde que não deixe ninguém para trás, reforçando a empregabilidade, a inclusão social e a sustentabilidade socioeconómica do país.
Ao alinhar-se com as recomendações do CEDEFOP e com o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, o PESSOAS 2030 contribui para que Portugal esteja preparado para o futuro com um mercado de trabalho mais verde, mais qualificado e mais inclusivo.
Aceda à notícia do CEDEFOP – Green skills wanted: how the green transition is reshaping the labour market