O relatório da OCDE “Os adultos têm as competências de que precisam para prosperar num mundo em mudança? – Inquérito às competências dos adultos 2023” tem por objetivo fornecer evidências sobre a forma como o desenvolvimento e a utilização de competências melhoram as perspetivas de emprego, a qualidade de vida e promovem o crescimento económico. A avaliação foi administrada exclusivamente com recurso a dispositivos digitais. Globalmente, o uso da internet, uma competência cada vez mais essencial, subiu de 76% em 2012 para 93% em 2023, refletindo a crescente digitalização da sociedade.
Portugal participou pela primeira vez no inquérito e apresentou resultados abaixo da média da OCDE em todos os domínios. A pontuação média dos adultos portugueses foi de 235 em literacia, 238 em numeracia e 233 em resolução de problemas, comparativamente às médias da OCDE, respetivamente 260, 263 e 257 pontos. Estes e os resultados que se seguem, mostraram que muito ainda existe por fazer em termos de educação de adultos em Portugal.
Na literacia, 42% dos adultos portugueses encontram-se no Nível 1 ou abaixo, o que significa que têm baixa proficiência neste domínio, um valor muito superior à média da OCDE de 26%. Em numeracia, 40% obtiveram resultados iguais ou inferiores ao Nível 1, contra 25% na OCDE, o que quer dizer que apenas conseguem realizar cálculos básicos. Apenas 7% dos portugueses alcançam os Níveis 4 ou 5 em numeracia, enquanto a média da OCDE é de 14%. Já em resolução de problemas, 42% dos adultos portugueses situam-se nos níveis mais baixos, contra 29% na média da OCDE, o que significa que conseguem resolver apenas problemas simples com poucas variáveis.
Proficiência dos adultos em literacia, numeracia e resolução adaptativa de problemas
As desigualdades são evidentes, com os adultos mais velhos, menos qualificados e migrantes a apresentarem piores resultados. Em Portugal, adultos com ensino superior têm pontuações significativamente mais altas do que aqueles que possuem apenas escolaridade básica. Ainda assim, Portugal fica aquém de países como a Finlândia, onde até adultos com níveis de escolaridade ao nível do ensino secundário apresentam desempenhos mais elevados do que os adultos portugueses com o ensino superior.
A desigualdade nas competências reflete-se também em disparidades socioeconómicas. Adultos com pais altamente escolarizados obtêm, em média, 50 pontos a mais em literacia do que aqueles com pais de baixa escolaridade, evidenciando a influência intergeracional na proficiência.
As competências são determinantes para a empregabilidade e a qualidade de vida. Adultos com maiores proficiências reportam melhores oportunidades de emprego, rendimentos mais altos, mais satisfação com a vida e maior participação cívica. Ao nível global, pessoas com competências elevadas em numeracia têm 11% mais probabilidade de reportar saúde muito boa ou excelente, mostrando a relação entre competências e bem-estar.
A formação contínua é fundamental para o sucesso profissional dos adultos. Quem investe continuamente em formação adapta-se melhor às novas exigências do mercado, especialmente em competências digitais, evitando desajustes entre qualificações e empregos, que afetam 23% dos trabalhadores. Estes desajustes podem levar a salários mais baixos e menor satisfação profissional. Com o tempo, as competências adquiridas tornam-se mais valorizadas do que as qualificações iniciais, permitindo que os adultos se destaquem e obtenham melhores resultados económicos e sociais. A formação contínua melhora a produtividade, eleva salários e promove maior bem-estar geral.
Nos países da OCDE, incluindo Portugal, muitos trabalhadores têm qualificações ou competências desajustadas às exigências dos seus empregos. Este desajuste pode refletir a dificuldade da força de trabalho em acompanhar mudanças na economia, como a digitalização, o envelhecimento populacional e a transição ecológica. Em Portugal, cerca de 14% dos trabalhadores declaram ser sobrequalificados (média da OCDE: 23%) e outros 14% declaram ser subqualificados (média da OCDE: 9%), para as funções que desempenham.
Os resultados do relatório sublinham a necessidade de reforçar os sistemas de educação e formação ao longo da vida. Em Portugal, o programa PESSOAS 2030, com o investimento do Fundo Social Europeu Mais (FSE+), promove a formação e qualificação da população adulta com um investimento total elegível aprovado de 864 milhões de euros, nos quais estão incluídos 734,5 milhões do FSE+.
Através do apoio a medidas como Centros Qualifica, Formações Modulares Certificadas, Cursos de Educação e Formação de Adultos ou Cursos de Especialização Tecnológica, o PESSOAS 2030 contribui para a melhoria das competências dos adultos residentes em Portugal. Estas medidas são fundamentais para responder ao desafio de adequar as competências da mão-de-obra disponível a um mercado de trabalho em rápida transformação. O Programa visa, assim, promover uma sociedade mais inclusiva e preparada para os desafios globais. Potencia, ainda, o contributo para a meta do Pilar Europeu dos Direitos Socias de ter, todos os anos, pelo menos 60% da população adulta a participar em formação.
Com o contributo dos apoios europeus e nacionais, Portugal tem uma oportunidade de reverter tendências negativas e melhorar o seu posicionamento no ranking global destacando-se como um exemplo de resiliência e inovação na educação e formação de adultos.