O inquérito realizado para a Fundação Francisco Manuel dos Santos teve como principal objetivo auscultar as perceções, opiniões e atitudes da população portuguesa relativamente à imigração e aos migrantes.
Portugal tem sido um destino crescente para migrantes nos últimos anos, contribuindo para a diversidade cultural e para o dinamismo económico do país. O Barómetro da Imigração revela que uma grande maioria dos portugueses* (68%) considera que a política de imigração em Portugal é demasiado permissiva, 67,4% dizem que os migrantes contribuem para mais criminalidade e 68,9% consideram que ajudam a manter salários baixos. Ao mesmo tempo, 68% concordam que os migrantes são fundamentais para a economia nacional, reconhecendo o impacto positivo do grupo sobretudo no reforço da Segurança Social e no preenchimento de lacunas no mercado de trabalho. Setores como a construção civil, agricultura e serviços dependem fortemente do contributo dos migrantes, considerado por muitos essencial para o crescimento económico do país.
Apesar desse reconhecimento, ainda persistem receios relacionados com a cultura e a segurança. Cerca de 51% dos inquiridos acredita que a imigração pode ameaçar a cultura portuguesa (valor que quase duplicou desde 2010), e a segurança pública. Estes receios refletem, em parte, perceções erradas, incluindo uma sobrevalorização do número real de migrantes no país, que muitos (cerca de 42%) estimam ser quase o dobro da realidade, que se situa nos 9,8% da população, abaixo de 17 países da União Europeia.
Outro resultado do Barómetro é o reconhecimento por 53% dos inquiridos das dificuldades enfrentadas pelos migrantes no acesso ao mercado de trabalho e por 40,6% no acesso à habitação. Muitos vivem em condições de precariedade habitacional e estão sujeitos a empregos menos qualificados, frequentemente com salários abaixo da média. Estas dificuldades são ainda mais acentuadas entre migrantes de países fora da União Europeia e resultam num valor que chega aos 27% de migrantes a viver em situação de pobreza ou exclusão social, bastante superior à percentagem de população portuguesa (19,4%).
O Barómetro aborda também o aspeto da confiança interpessoal, indicando que há uma ligação clara entre a confiança social e atitudes mais positivas em relação aos migrantes. Nos municípios onde existem políticas ativas de inclusão, como apoio comunitário e oportunidades de interação entre residentes e imigrantes, as perceções são mais favoráveis.
Com o financiamento do Fundo Social Europeu Mais, o PESSOAS 2030 apoia medidas que visam responder a desafios identificados no Barómetro. Entre as suas iniciativas destaca-se o apoio aos Centros de Atendimento (CNAIM)/estruturas de acompanhamento e apoio especializado a migrantes; a Projetos de Desenvolvimento Social e Comunitário apoiados (CLDS) com foco nas comunidades migrantes; o apoio financeiro e técnico a organizações de migrantes e a outras organizações não governamentais (ONG) que desempenhem um papel junto destas pessoas, bem como o apoio à aprendizagem da língua portuguesa (PLA) por cidadãos estrangeiros, onde se incluem todos os migrantes com essa necessidade.
No Dia Internacional dos Migrantes, o Programa PESSOAS 2030 reforça o seu empenho em continuar a apoiar políticas públicas mais inclusivas e eficazes. Investir na integração dos migrantes é uma questão de justiça social, mas também de desenvolvimento económico sustentável.
Os resultados do Barómetro deixam claro que, embora tenha havido avanços, ainda há muito trabalho a fazer para reduzir os preconceitos e garantir que todos os residentes em Portugal, independentemente da sua origem, tenham as mesmas oportunidades de prosperar.
Ao promover iniciativas de inclusão, como as apoiadas pelo PESSOAS 2030, Portugal pode continuar a construir uma sociedade mais justa, diversa e solidária, onde os migrantes sejam plenamente reconhecidos pelo seu contributo para o país. No Dia Internacional dos Migrantes a mensagem foi clara e universal: investindo na integração dos migrantes, todos saímos a ganhar.
*O público inquirido para o Barómetro da Imigração incluiu residentes de Portugal continental com 18 ou mais anos de idade, de nacionalidade portuguesa à nascença, fluentes em língua portuguesa e com acesso a telefone (fixo ou móvel) ou internet. Foram realizadas 1072 entrevistas válidas entre junho e agosto de 2024, utilizando métodos de inquérito online e entrevistas telefónicas. A amostra foi estratificada com base em quotas por sexo, grupos etários, região de residência (NUTS II) e escolaridade.